As histórias da Pedra do Cordeiro em Belém: da origem do nome à caverna dos leprosos

Pedra do Cordeiro (à direita) com vista parcial de Belém.

A Pedra do Cordeiro é uma formação rochosa situada no limite entre os municípios de Belém e Bananeiras, tendo o Riacho da Picada como divisor intermunicipal. Do alto da Pedra do Cordeiro, com altitude de 240 metros, podem ser vistas a cidade Belém, o distrito de Rua Nova, a cidade de Caiçara, além do Cruzeiro de Roma e até a estátua de frei Damião (parte de trás).

No ano de 2014, a Paróquia Sagrada Família de Belém adquiriu uma parte de terra com pouco mais de um hectare e meio, onde está situada a Pedra do Cordeiro, para a construção de um santuário mariano dedicado a Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Belém.

A origem do nome.

De acordo com uma das versões, a origem do nome do local seria referência ao sobrenome da família Cordeiro, que teria sido a antiga proprietária das terras onde está localizado esse grande afloramento rochoso. Porém, não há registro oficial, até o momento, de algum proprietário de terras com esse sobrenome nas imediações

Entretanto, há citações, em diversas fontes escritas, como por exemplo, no jornal Diário de Pernambuco (recorte abaixo), datado de 7 de dezembro de 1924, sobre a “fazenda Cordeiro”, de propriedade do influente Coronel Ascendino Neves, de Bananeiras, mas sem a identificação exata onde ficava a propriedade no município. Outra citação da mesma propriedade "Cordeiro" está no Recenseamento Geral do Brasil de 1920, que cita novamente o Coronel Ascendino Neves como proprietário.


Além da versão anterior, alguns moradores explicam o nome do local devido ao texto bíblico no qual Jesus, o Cordeiro de Deus, curou os dez leprosos, pois nos arredores da Pedra do Cordeiro, onde existem várias “locas”, os portadores de hanseníase (lepra) se abrigavam no início do século passado, pois, na época, não existia tratamento para esta enfermidade e os doentes ficavam isolados nesses locais para não transmitirem a doença às outras pessoas.

A origem do cruzeiro.

Cruzeiro da Pedra do Cordeiro. Foto: Rogério Avelino.

No ano de 1961, foi erguida uma cruz de madeira na Pedra do Cordeiro em memória do adolescente José Carlos Cruz, vítima de atropelamento, naquele mesmo ano, nas proximidades do atual Abrigo de Idosos Bom Pastor, na cidade de Belém. Na ocasião, o cruzeiro recebeu a bênção do padre Francisco de Assis Costa, da Paróquia de Pirpirituba, conferindo o status de lugar de peregrinação, tornando a Pedra do Cordeiro um local de oração para adeptos de várias denominações religiosas.

Entretanto, a ideia de colocar um cruzeiro na Pedra do Cordeiro remonta à década de 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando o Padre Moisés, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Pirpirituba, ao realizar uma celebração religiosa em Belém, teria feito uma promessa pela qual, se a guerra terminasse, construiria um cruzeiro na Pedra do Cordeiro sob o título de Cruzeiro da Paz. A promessa do padre, porém, foi concretizada com a edificação de um cruzeiro em outro local, na Serra da Jurema, entre os municípios de Pirpirituba e Guarabira, no ano de 1945, quando a guerra chegou ao fim.

A caverna dos leprosos.

Entrada da Caverna dos Leprosos. Foto: Jailson Silva/ Canal Caminhos do Brejo.

Entre o final do século 19 e início do século 20, os abrigos rochosos, em grande quantidade nos arredores da Pedra do Cordeiro, foram utilizados pelos moradores como leprosários a céu aberto, ou seja, como locais onde eram colocados os doentes atingidos pela lepra, como era conhecida a hanseníase. Além das vítimas da hanseníase, os moradores contaminados pela varíola (bexiga) e outras doenças contagiosas também eram isolados nas “locas”, segundo contam os moradores mais antigos.

Os enfermos eram praticamente abandonados nos abrigos rochosos da região da Pedra do Cordeiro, ficando sob os cuidados de um “tratador (a)”, geralmente uma pessoa idosa que levava roupas e mantimentos, deixando-os próximos aos abrigos, de onde saíam os enfermos para recolherem os materiais. Era comum ao “tratador (a)” incensar o trajeto até onde eram deixados os mantimentos. As vítimas fatais da doença contagiosa eram enterradas nas proximidades dos abrigos.


Interior da Caverna dos Leprosos. Foto: Jailson Silva/ Canal Caminhos do Brejo (Youtube).

Pedras para a construção da Igreja da Conceição.

A Igreja Nossa Senhora da Conceição foi inaugurada, oficialmente, no dia 24 de fevereiro de 1934. Porém, a construção teve início há mais de um século, no começo da década de 1910, com intensa participação da comunidade católica que, até então, realizava as celebrações religiosas numa pequena capela de taipa, construída ao lado direito da atual igreja, e já dedicada a Nossa Senhora da Conceição, desde a segunda metade do século 19.

Relatos antigos dão conta de vários mutirões empreendidos pelos fiéis católicos para transportar pedaços de rochas, retirados dos arredores da Pedra do Cordeiro, para o alicerce do novo templo, estreitando a relação entre a Pedra do Cordeiro e a devoção à Padroeira de Belém.

Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição (2017). Foto: Destino Brejo.

Marcas indígenas e escravagistas.

Na região da Pedra do Cordeiro também há evidências de pinturas rupestres deixadas pelos indígenas. Apesar de pouco visíveis devido à ação antrópica (do ser humano) e a exposição às intempéries climáticas (chuva, sol, temperaturas etc.), é possível observar alguns traços avermelhados em abrigos rochosos, popularmente conhecidos como “locas”.

Outro fato na historiografia local, sobre a presença indígena, é o significado do riacho chamado Picada, por onde se dá o principal acesso, pela cidade de Belém, à Pedra do Cordeiro. O Riacho da Picada leva esse nome popular, que significada rastro ou caminho estreito, devido a uma antiga trilha dos índios Tapuias, os quais se deslocavam da margem esquerda do rio Curimataú, vindos da Serra de Araruna e adjacências, e passavam ao lado do referido riacho.

Arredores da Pedra do Cordeiro. Foto: Júnior Miranda.

Além da presença indígena, nos arredores da Pedra do Cordeiro ainda existem marcas dos trabalhos realizados pelos negros escravizados nas fazendas circunvizinhas, durante o período escravagista na região. Trata-se de resquícios de cercas de pedras para delimitar as propriedades rurais, e que ainda existem na região.

Suposta aparição de Nossa Senhora em direção à Pedra do Cordeiro.

No campo das visões religiosas populares, numa das festas dedicadas à Padroeira de Belém, uma jovem teria visto a imagem de Nossa Senhora da Conceição, circundada por anjos, projetada em direção à Pedra do Cordeiro. Assustada, a jovem questionou às pessoas próximas se estariam vendo aquela imagem. No entanto, apenas ela estaria contemplando aquela visão sobrenatural. 

Colocação de uma nova cruz na Pedra do Cordeiro, em 2015. O local pertence atualmente à Paróquia Sagrada Família de Belém.

Além da suposta aparição de Nossa Senhora, outro jovem teria sonhado com a figura de Jesus Ressuscitado, também em direção à Pedra do Cordeiro, com flores brancas caindo sobre ele. No sonho, era pedido que jogasse uma flor vermelha que, na interpretação do padre, simbolizaria o Sagrado Coração de Jesus.

A lenda das Vozes dos Leprosos e a aparição de Objetos Voadores Não-Identificados (OVNIS).

Por fim, reza a lenda belenense que, sempre ao pôr do sol, moradores e andarilhos que caminham pelas trilhas que levam à Pedra do Cordeiro, ouvem vozes com pedidos de ajuda dos leprosos ou “bexiguentos”, os quais ficavam isolados da população numa gruta nas proximidades, configurando o ambiente com aspectos sobrenaturais.

Vista da Pedra do Cordeiro. Foto: Júnior Miranda.

Reforçando o caráter misterioso do local, diversos relatos sobre aparições de Objetos Voadores Não-Identificados (OVNIS), desde a década de 1990, são propagados por moradores, os quais afirmam terem visto objetos luminosos arredondados, em movimento espiral ou ziguezague, no céu da região da Pedra do Cordeiro, que, segundo os ufólogos, estaria inserida num corredor magnético intercontinental que atrairia os OVNIS, conforme matéria publicada, no dia 30 de abril de 1996, pelo jornal Folha de São Paulo, com o título: "Assembleia [Legislativa] discute os 'Ovins' da PB".

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