As inscrições rupestres descobertas em Gengibre (Belém) por um engenheiro do império no século 19
No final da década de 1860, o engenheiro civil Francisco Soares da Silva Retumba (filho) foi contratado para analisar o potencial de recursos minerais na Província da Parahyba do Norte.
A expedição do engenheiro Retumba, iniciada pela Vila da Independência (Guarabira), não apenas encontrou potenciais jazidas de minérios, como também inscrições rupestres pelo interior da província, com destaque inicial para a localidade de Gengibre, atual município de Belém, como consta no relatório dirigido ao então Presidente da Província, Antônio Herculano de Sousa Bandeira, em 1886 (ortografia da época):
“Este itinerario uma vez fixo, comecei minhas excursões pela
villa da Independencia , seguindo d'ali para Gengibre ou Belém [...] Foi em
Gengibre, segundo a linguagem official, ou Belém, na linguagem do povo, que
pela primeira vez tive a occasião de observar semelhante curiosidade; depois
fui encontrando outras, outras e mais outras”, destaca Retumba.
Na sequência do relatório, o engenheiro português descreve características das inscrições rupestres encontradas em Gengibre, similares às outras inscrições encontradas durante a expedição (ortografia da época):
“[...] pois me conduzio á descoberta de outras inscripções, que o povo chama letreiros ou pinturas, as quaes como já disse, são de sabido valor. Consistem, ellas em riscos e linhas, rectas e curvas ás vezes combinadas, formando uma especie de hieroglyphos ou caracteres difficeis de se interpretar. Esses caracteres se encontram pintados em gigantescas pedras ou em serras altissimas, quasi todos lugares de difficil accesso . Cada um dos caracteres que formam a inscripção se acha perfeitamente separado do caracter ou da lettra seguinte, de modo a não existir confusão alguma. Encarnada é, em geral , a tinta de que se serviram para pintarem semelhantes inscripções , que, pela maior parte, são collocadas ao abrigo das chuvas”.
Mais adiante, o engenheiro Francisco Retumba cita novamente Gengibre (Belém), corrigindo a versão dos moradores sobre a origem das inscrições rupestres, os quais acreditavam tratar-se de ação de holandeses ou sinais da existência de tesouros escondidos nos locais, mas que na verdade eram inscrições deixadas pelos indígenas (ortografia da época):
“Dei-lhes a principio pouca importância, sobretudo em face
da credulidade popular que, desde Gengibre até Pombal, é unanime em attribuir a
origem dellas aos hollandezes ou flamengos, como dizem os sertanejos, que em
grande parte, estão firmemente persuadidos de que annunciam taes lettreiros a
existencia de thesouro ou dinheiro enterrado. Tão innumeras como ôcas de sentido
são as legendas em que se fundam elles para ainda hoje conservarem intactas
crenças de outr'ora, quando, como V. Exc. sabe, nunca afastaram-se os
hollandezes a mais de 20 leguas da costa.”, conclui Retumba.
Pela descrição das inscrições rupestres, da designação dos moradores sobre essas pinturas, chamadas de “letreiros”, e pelo o objetivo da expedição de Francisco Retumba – busca de minérios - , cogitamos que o local dessas inscrições rupestres, encontradas pelo referido engenheiro, seria a “Pedra do Letreiro” (imagem no topo da matéria), na região do sítio Gameleira, zona rural do município de Belém, pois, segundo o Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba, do historiador Coriolano de Medeiros, foi na localidade de Gameleira que o engenheiro Retumba também encontrou uma “abundante jazida de ferro”, na expedição que começou em 1869:
Riquezas naturais — O engenheiro Francisco Retumba, num Relatório que apresentou ao Presidente da Paraíba em 1887, diz ter encontrado no município, no lugar Cameleira, uma jazida de ferro, cujo rendimento calculou em 70%. (MEDEIROS, Coriolano de. Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba. 2ª edição. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950. p.57).
Sobre a arte rupestre, de acordo com o Dicionário IPHAN do Patrimônio Cultural, vem do latim ars rupes “arte sobre rocha”, comportando um amplo conjunto de imagens produzidas sobre suportes rochosos abrigados (cavernas e grutas) ou ao ar livre (paredões e lajedos).
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