Belém, terra dos Potiguaras e passagem dos Tapuias
No final do século XVI (16), o território que abrange na atualidade o município de Belém, no Agreste/Brejo paraibano, constituiu-se em palco de intensos conflitos entre os Potiguaras - nativos da região - e os colonizadores portugueses, os quais receberam o apoio da nação indígena Tabajara, liderada pelo cacique Piragibe e fixada nos arredores do então povoado de Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa), durante as investidas contra os rivais Potiguaras na chamada Serra da Copaoba [área que hoje compreende os municípios de Belém, Serra da Raiz, Caiçara, Duas Estradas e Pirpirituba].
O historiador paraibano Horácio de Almeida, em sua obra
História da Paraíba (1997), confirma a Serra da Copaoba como sendo a “principal
cidadela” dos Potiguaras no princípio da colonização da Paraíba, no final do
século XVI:
Os potiguaras, conquanto bem mais numerosos, não eram os mais antigos. Deviam ter chegado ao território da Paraíba, segundo a opinião dos mais autorizados historiadores, em época contemporânea a do descobrimento do Brasil. Não de muito tempo, realmente, seria a sua permanência no lugar, pois ocupavam apenas uma pequena faixa, nas encostas da serra da Copaoba, contraforte da Borborema, onde ficam os atuais municípios de Serra da Raiz, Caiçara, Duas Estradas, Belém e Pirpirituba. Tinham ali a sua principal cidadela. Como esse reduto ficasse próximo do mar, faziam incursões por todo o litoral, mantendo aldeias, como postos avançados, na Baía da Traição, na foz do Mamanguape e nas imediações da embocadura do Paraíba. Do litoral paraibano, estenderam-se pelo Rio Grande do Norte, de onde passaram, em sucessivas levas, para a Serra da Ibiapaba, no Ceará, e para o Maranhão, chegando muitos deles ao Pará. (ALMEIDA, 1977, pp. 238-239).
[...]
Outro grupo indígena com relevante presença nas proximidades da Serra da Copaoba era os Tapuias, da nação Tarairiú. Apesar de serem considerados de hábitos nômades ou seminômades, os Tapuias dominavam as margens do Rio Curimataú, especialmente à margem esquerda, adentrando nos territórios dos atuais municípios de Tacima e Araruna, por exemplo, mas que em determinados períodos trafegavam pela Copaoba para a obtenção de alimentos ou em ações de apoio a indígenas do grupo na resistência aos colonizadores.
Na publicação de Ismael da Costa (1990, p.76), sobre o deslocamento dos Tapuias por essa região, o autor diz que “os tapuias mantinham suas ‘passagens’ pelas terras da Cupaóba”, sendo uma delas situada “entre Caiçara e o Rio Grande do Norte, no rio Curimataú, no lugar exatamente denominado ‘Passagem’, próximo ao BRAGA [distrito do município de Tacima]”. A outra passagem dos Tapuias se dava por dentro do atual território do município de Belém, pelo sítio Ladeira de Pedra:
A outra ‘passagem’ importante era aquela situada em Ladeira de Pedra, nas divisas [limites] de Belém com Pirpirituba, por onde os tapuias entravam, ludibriando a vigilância das tropas do capitão-mor Luiz Soares, quando iam em socorro dos seus irmãos cariris do Piancó (COSTA, 1990, p. 76).”
[...]
Dominados os nativos, os colonizadores luso-espanhóis avançaram na ocupação do território e fatiaram as terras dos Potiguaras, e dos Tapuias, por meio de inúmeras concessões de Sesmarias, das quais, séculos depois, originariam várias cidades do Agreste Paraibano, dentre elas, a cidade de Belém, que primitivamente se chamava Gengibre, uma das culturas introduzidas na região pelos colonizadores europeus na época do descobrimento do Brasil.
Fonte: MIRANDA JÚNIOR, José. Da colonização portuguesa à Gengibre: construção histórica do município de Belém. Guarabira: UEPB, 2016.
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