Há 130 anos eram instalados os primeiros lampiões a gás nas ruas de Belém/PB
Os primeiros lampiões a gás (querosene) começaram a ser instalados em Belém no final do século 19, quando ainda era um povoado com poucas ruas, todas no entorno da antiga capelinha de taipa sob o orago de Nossa Senhora da Conceição, que ficava ao lado direito da atual “Igreja da Conceição”, no marco zero da cidade.
De acordo com o Relatório do Presidente do Estado da
Parahyba - os governadores da época eram denominados de presidentes dos estados
-, Venâncio Neiva, apresentado ao Congresso Constituinte da Parahyba em 25 de
junho de 1891, dois anos após a Proclamação da República, foram fornecidos
lampiões a vários povoados que pertenciam ao município de Guarabira, dentre os
quais, a povoação de Belém.
Acendedor de lampiões, por Debret.
O relatório do presidente Venâncio Neiva, com as ações realizadas pelo seu governo (1889-1891) que chegava ao fim, destaca que, para o município de Guarabira, “foram também fornecidos lampeões ás povoações de Caiçara, Belém, Cuité [atual Cuitegi] e Alagoinha”.
A mesma informação contida no relatório do presidente da Parahyba, sobre o fornecimento de lampiões para as localidades citadas, no período do seu governo, foi publicada dezesseis anos depois, no dia 23 de setembro de 1907, pelo jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, mas como “Mensagem apresentada a Assembleia Legislativa da Parahyba do Norte” pelo então Presidente do Estado, Monsenhor Walfredo Leal:
“GUARABIRA [...] Iluminação publica – Conserva-se regular, tendo sido augmentada com alguns lampeões. Foram também fornecidos lampeões ás povoações de Caiçara, Belém, Cuité e Alagoinha. [...] Prefeito é o Coronel Manuel Pereira da Silva Simões.”
Apesar do avanço com a chegada dos lampiões a gás, a iluminação pública de Belém continuava precária, pois a pouca luminosidade oferecida pelos lampiões, instalados em algumas ruas, ainda dificultava o deslocamento da população, como afirma a antiga moradora Maria Amarante:
“As luzes [de Belém] eram de lampião, daqueles candeeiros de parede. Cada distância tinha um. Era aquela rua apagada, só dava aquela sombra... Um lampiãozinho numa coisinha de gás. O clarão era vermelho, era aquele apagado, a gente entrava aqui... Se fosse preciso vir de noite por doença de família, era aquela rua apagada, escura. Mas agora é um dia, tanto faz de noite que nem de dia.” (Depoimento da Sra. Maria Amarante, aposentada, 88 anos de idade na entrevista realizada em 2008).
Comumente, devido alegações financeiras das gestões municipais e estaduais, os lampiões alimentados com querosene eram acesos, especialmente, nas fases menos luminosas da lua, características que ditavam a vida noturna dos moradores.
As condições da iluminação pública de Belém só melhoraram com a chegada da energia elétrica, gerada por motor a óleo, no ano de 1936, e, em definitivo, com a instalação da rede elétrica pela Companhia Distribuidora de Eletricidade do Brejo Paraibano (CODEBRO), em 1962, com a energia vinda da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF).
Comentários
Jocelino Tomaz 05 maio, 2022 22:03
Relato muito interessante, parabéns pela pesquisa, com pesquisador e divulgador da história de Caiçara, agradeço pelos resgates históricos que tens realizado e socializado através deste blog.
Túlio Cordeiro 16 maio, 2022 02:26
Época de transição e recessão com as trevas... agora somos ainda mais modernos com nossas lâmpadas! Imagino que no Belém dos lampiões existia um ar gótico atmosfera da cidade. Pouca luminosidade e luzes avermelhadas de candeeiros e lampiões que ampliavam as "sombras". Assim, nessa "rua [quase que] apagada" se estabeleceu a possibilidade de transitar durante a noite. Pesquisa estimulante!