O “sinal de guerra” e o pedido do frei Herculano para construir a Capela de Rua Nova, em Belém/PB
A Capela Nossa Senhora da Pureza, localizada no distrito de Rua Nova, no município de Belém, foi inaugurada no ano de 1926. Um dos principais patrimônios históricos arquitetônicos dos belenenses, o templo católico foi construído no terreno doado por Lindolfo Amaro, ou Amaro Lyra, com a colaboração da comunidade e de moradores com influência política e econômica, a exemplo de Jorge Rodrigues de Lima, Henrique Rodrigues de Lima, Eustáquio Pedrosa, Emygdio Romão entre outros.
Segundo relato do saudoso Abel Batista de Oliveira, conhecido por Abel do Monte (ou Dumont), antigo morador da localidade, o terreno onde foi construída a capela “pertencia a Lindolfo Amaro, mas morava em Santo Antônio do Salto da Onça. Quando fizeram essa igreja, rebocaram a frente. Agora, dentro, fizeram de tijolo manual. Nem cimentado era. Banco não tinha. Quem tinha as cadeiras para assistir na hora da missa era o povo de Jorge Rodrigues, povo de Seu Eustáquio. Eu sei que eram umas oito ou dez cadeiras. E o povo ficava tudo em pé.”. (Relato concedido ao editor do blog no ano de 2008).
Fragmentos de uma ata, datada de 17 de novembro de 1926, descoberta por acaso durante a reforma da Capela de Nossa Senhora da Pureza, no ano de 1991, aponta o senhor Amaro Lyra Pedrosa como doador do terreno onde foi erguida a capela, inaugurada naquela mesma data pelo padre José de Maria Baptista Dias, vigário da matriz de Nossa Senhora do Rosário, de Pirpirituba, que também acompanhava a Vila de Belém.
Porém, o local para a construção da Capela de Rua Nova não foi escolhido por acaso, teria sido sugerido, ainda no século 19, pelo famoso missionário padre/frei Herculano Vieira, o mesmo que apoiou a mudança do nome de Gengibre para Belém, recomendada pelo padre Ibiapina, por volta do ano de 1869.
De acordo com o depoimento de Manoel de Oliveira (in memoriam), conhecido por “Seu Manuca”, catequista com longa atuação na Paróquia de Belém, no local onde está edificada a Capela de Nossa Senhora da Pureza, em Rua Nova, estariam depositadas inúmeras ferramentas artesanais utilizadas pelos trabalhadores escravizados nos engenhos de cana-de-açúcar que funcionavam próximos ao povoado.
Após as ferramentas serem recolhidas pelo padre Herculano,
alarmado com a violência entre os trabalhadores, o religioso pediu que fosse
aberta uma vala e enterrados os objetos cortantes, e, no mesmo local,
edificassem uma igreja como sinal de purificação. Daí teria surgido o nome da padroeira do distrito de Rua Nova: Nossa Senhora da Pureza.
Em entrevista concedida no ano de 2008, o Sr. Manuca nos
contou os detalhes do episódio, considerado “sinal de guerra”, com a
intervenção do religioso católico:
“Foi justamente frei Herculano que mandou fazer aquela capela, por ordem dele. Porque Rua Nova era um povoadozinho pequeno. Moravam uns “negos” lá, que meu pai contava, brabos que só uma onça. E houve uma briga lá em Rua Nova tão grande que foi quase que um sinal de guerra. Naquela época, era época dos punhais. Cada punhal desse tamanho... Você não vê um negócio chamado chuncho? É um pedaço de ferro desse tamanho assim... Batido que nem uma foice. Só que ele é com uma ponta. Chamava-se chuncho. Botava num pedaço de pau. Aquilo ali era para, por exemplo, furar um negócio alto. Ou furar qualquer negócio. E então, tinham até como uma arma em casa... Cabra vêm malfazer em casa, pegava um chuncho daquele, botava pra cima do cabra. E a faca não era peixeira naquela época, era um punhal, desse tamanho assim. Aí houve essa guerra muito grande, briga de família lá. Eu sei que mataram muita gente lá. Aí o missionário foi lá. Deu umas missões e pediu tudo que fosse de punhal, de chuncho, de foice, de machado, de tudo. E mandou cavar um buraco fundo e jogou lá dentro. Mandou aterrar e mandou construir aquela capela que ainda hoje tá lá. Debaixo da capela. Meu pai que contava isso. Meu pai ainda era menino quando aconteceu isso. Foi do outro século passado. Meu pai nasceu na era de 70 pra 80, de 1800.”
Comentários
Augusto 13 maio, 2022 23:09
Ao ler a matéria, viajamos no tempo!
Anônimo 14 maio, 2022 11:57
E eu que amo essa história que não vivi 😍
Anônimo 14 maio, 2022 18:27
Bela reportagem, parabéns!!