Quem mudou o nome de Gengibre para Belém nos anos de 1870? Padre Ibiapina ou Herculano?

Painel no Santuário do Padre Ibiapina, em Solânea, representando as viagens do religioso pelo Nordeste.

A atual denominação de Belém remonta aos anos de 1870, e não no início do século XX, como atestava a principal versão popular. Esse apontamento pode ser confirmado nos arquivos da Paróquia de Nosso Senhor do Bonfim, da vizinha cidade da Serra da Raiz, da qual o povoado de Belém estava sob a jurisdição dessa antiga Freguesia, nos idos de 1870. [...]

A aludida descrição no livro de batismo da Paróquia da Serra da Raiz leva à conclusão de que o nome Gengibre, primitiva denominação de Belém, teria sofrido a modificação antes de 1870 ou naquele mesmo ano, e que, segundo uma versão popular, teria ocorrido por intermédio do “Frei” Herculano, “famoso pelas suas ações de fé e religiosidade, onde, nas celebrações dos atos litúrgicos, desabotoava sua batina e se autodisciplinava, com um relho chumbado na ponta, até ensanguentar-se” (SILVA, 1997, p. 41).

Interessante nota histórica do Sr. Osvany Sales, tabelião do Cartório de Registro Civil de Belém, descreve o ato religioso do padre Herculano que, dirigindo “uma prece a Deus”, rogou a paz para o lugarejo violento, batizando-o com o nome de Belém. Com o tempo, o povoado se “acalmou e rapidamente se desenvolveu”, perpetuando a fama profética do religioso católico:

[...] o Missionário [padre] Herculano, convidado a pregar umas missões no povoado, alarmou-se com os crimes que havia. Reuniu o Povo, e numa grande concentração religiosa dirigiu uma prece a DEUS para que houvesse tranquilidade na região e em seguida batizou o lugar com o nome de BELÉM, com o objetivo de conseguir do Alto a paz para aquela gente. Sua prece foi ouvida. O lugar acalmou e rapidamente se desenvolveu (ASSIS, 1973, p. 2).

A outra versão corrente aponta o Padre Ibiapina (imagem abaixo) como o promotor da alteração do nome de Gengibre para Belém, como afirma o escritor caiçarense Severino Ismael da Costa:

Uma outra ocorrência que lembra um costume de Ibiapina foi a tentativa para mudar o nome do lugar. Ainda fala Izabel Moura, riquíssima e entusiasmada fonte de informação: “O missionário ficava indignado com o nome Caiçara. Tem que mudar! De hoje em diante esta terra passa a chamar MARIANÓPOLIS”, que Izabel nomeava “MARIA NOBRE”. [...] Mudar nome de lugares era próprio também de Ibiapina. [...] [Ibiapina] tentou alterar nomes de arruamentos vizinhos: Para “Gengibre” propôs BELÉM, que o povo aceitou; para Serra da Raiz indicou “JERUSALÉM” (que Izabel Moura entendia “JESUS ALÉM”), denominação que não prosperou; para “Anta Esfolada”, já no Rio Grande do Norte pretendeu o nome de “NOVA CRUZ”, sugestão que o povo aceitou até os dias presentes (COSTA, 1990, p. 109).

O terceiro religioso referenciado pela tradição oral como um dos autores da mudança do nome de Gengibre para Belém seria o frade franciscano Martinho Jansweid (1876-1930). Frei Martinho, nascido em Colônia, na Alemanha, chegou ao Brasil no ano de 1894, instalando-se na Paraíba em 1911. Ficou conhecido pelas construções de igrejas e “uma vida dedicada às missões populares, desobrigas e visitas pastorais muitas vezes acompanhando Dom Adaucto [Primeiro Bispo da Paraíba]”  (RIETVELD, 2014, p. 84).

Frei Martinho não foi, certamente, o autor da alteração do nome da povoação de Gengibre por esta ter ocorrido no início do decênio de 1870. Mas, é provável que o frade franciscano tenha endossado a modificação do nome durante sua missão realizada no então distrito de Belém, na década de 1910, como é recorrente na tradição oral local.

Fonte: MIRANDA JÚNIOR, José. Da colonização portuguesa à Gengibre: construção histórica do município de Belém. Guarabira: UEPB, 2016.nstrução histórica do município de Belém. Guarabira: UEPB, 2016.

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