Sítio Baianos de Belém: local de antigos engenhos, histórias familiares e Área de Proteção Ambiental do Roncador
Área com importância histórica e ambiental para o município
de Belém, no Agreste/Brejo paraibano, o sítio Baiano, ou Baianos, está
localizado na parte sul do município, em uma região serrana que compreende a
Serra da Copaoba, na escarpa oriental do Planalto da Borborema. Com poucos
moradores na atualidade, a comunidade rural faz limite com os sítios Mufumbo e
Ladeira de Pedra, por onde estão os principais acessos.
Até a década de 1950/60, funcionava no sítio Baiano um engenho
de propriedade de Cláudio Cantalice Viana. Ainda hoje existem ruínas da antiga
casa-sede. Este proprietário de terras possuía outro engenho bem próximo, no
sítio Mufumbo.
No recenseamento das propriedades rurais brasileiras,
ocorrido em 1920, também são mencionados outros proprietários de terras nos
Baianos, como: Francisco Assis Barbosa, José Barbosa de Miranda e Sá, e Odilon
Amâncio da Cunha (clique aqui).
Meus trisavós paternos, Francisco Severino da Cunha e Petronila Alice de Miranda, moravam nas terras de Odilon Amâncio, no Sítio Baiano. Meu trisavô chegou a ser administrador do engenho, como consta no livro "O pouso das aves sem ninho", publicado pela Offset Editora, de autoria de João Severino da Cunha, neto dos meus trisavós:
"O patriarca Francisco Severino da Cunha e Petronila Alice de Miranda casaram-se e fixaram residência no Sítio Baiano, município de Belém/PB.
Viviam da agricultura, predominando a plantação e o cultivo de fumo,
cana-de-açúcar, agave, milho, feijão, algodão e diversos tipos de frutas. Era
arrendatário de uma área de terra e também administrava o engenho do Sr. Odilon
Amâncio. Neste lugar nasceram todos os seus filhos: Maria, Pedro [meu bisavô
paterno Pedro Severino Miranda, que exercia a função de tropeiro], Manoel,
Amélia, Luiz, José, Isabel (Biluca), Odilon, Joana, Áurea e Ana."
No final do século 19, especificamente no ano de 1891, uma propriedade nos Baianos, chamada Boa Vista, foi citada no jornal O Estado da Parahyba em um anúncio de venda. Na época, essa área pertencia à Serra da Raiz, como destacado no aviso do jornal, nos seguintes termos:
"Attenção
Jorge Cavalcante de Albuquerque Chaves e sua mulher vendem por preço módico, duas partes de terra, com uma bôa casa de morada, na propriedade Bôa Vista, conhecida por Baianas [Baianos], no termo da Serra da Raiz.
A’ tratar nesta Capital com o anunciante, ou com qualquer dos seus procuradores Drs Inojosa Varejão, Antonio Hortencio e D. Luiz da Silveira; e na povoação de Caiçara com o tenente coronel Costa Queiroz.
Parahyba, 8 de maio de 1891."
Porém, é no jornal Diário de Pernambuco, em 16 de abril de 1903, que o engenho Baiano é citado nominalmente em uma nota de falecimento da senhora Margarida Emília Cesar, mãe do coronel José Barbosa de Miranda e Sá, proprietário de terras nos Baianos mencionado no recenseamento rural de 1920.
"DESAPPARECIDOS
No seu engenho Bôa Vista dos Bahianos, na comarca de Guarabira, Estado da Parahyba, falleceu no dia 8 do corrente, na idade avançada de 84 annos, a virtuosa e respeitavel sra. d. Margarida Emília Cesar, estimadissima de todos quantos a conheciam.
Era viuva e deixou 6 filhos, entre os quaes o sr. coronel José Barbosa de Miranda e Sá, o major Francisco Barbosa de Miranda e Sá e o capitão André Barbosa de Miranda e Sá.
O enterramento realizou-se no dia seguinte, no Cemiterio da Serra da Raiz, perante enorme concurso de parentes e amigos.
Nesta capital serão celebradas missas de trigesimo dia por alma da extincta. [...]"
Sobre o nome do sítio Baiano, a principal versão diz que a comunidade rural leva esse nome devido a um antigo casal de migrantes vindo do estado da Bahia, o qual adquiriu as terras onde foi construído o engenho, dos “baianos”. Outra versão diz que o nome da comunidade seria por causa dos negros escravizados, os “baianos”, que trabalhavam nessas terras altas e de difícil acesso.
A serra do Baiano é tão marcante na paisagem da região que é citado no hino do município de Pirpirituba, já na segunda estrofe, com os seguintes versos:
"Nos afagam dois rios: nossas fontes
Que do sopé da rainha Borborema
Miram a cadeia de elos de três montes
Majestosos cerros: Roma, Baiano e Jurema."
Vale ressaltar que essa parte leste/sul do município de
Belém apresenta características geoclimáticas do Brejo paraibano, com serras
úmidas e vegetação de transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica.
Além desses aspectos geohistóricos, o sítio Baiano tem uma
grande importância ambiental, pois está inserido na Área de Proteção Ambiental
do Roncador.
Criada pelo Decreto Estadual nº 27.204, de 6 de junho de 2006, a APA Roncador possui uma área de 6.113 hectares, abrangendo parte dos municípios de Bananeiras, Pirpirituba, Borborema e Belém, como pode ser observado nos mapas municipais divulgados recentemente pelo IBGE.
No caso de Belém, a APA Roncador abrange os sítios Baiano e Ladeira de Pedra, até parte dos sítios Gambá e Aldeia, nos limites com os municípios de Pirpirituba e Bananeiras. Uma área serrana, com resquícios de Mata Atlântica e vários “olhos d’água”, os quais devem ser preservados em harmonia com os moradores da localidade, através da educação ambiental e práticas corretas de cultivo.
De acordo com a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), a APA do Roncador tem 6.113 hectares, formados por vegetação de mata atlântica, relevo irregular, com serras, vales e ravinas, e a famosa cachoeira do roncador, no limite entre os municípios de Bananeiras e Borborema, um dos locais mais visitados da região. A cachoeira está encravada na escarpa do planalto da Borborema, escavada por milhares de anos na rocha. Da base até o topo, atinge cerca de 450 metros acima do nível do mar.
Comentários