O esquecido povoado do século 20 no Engenho Ladeira de Pedra em Belém/PB
Quem trafega pela rodovia estadual PB-073, no trecho conhecido como “Ladeira de Pedra”, entre Belém e Pirpirituba, não imagina que na “baixada” verdejante, antes de subir a ladeira sinuosa em direção à cidade de Belém, existia um povoado com engenho, capela, escola e até uma feira. Vamos contar um pouco dessa história.
Há mais de um século, um pequeno povoado rural surgia no sopé da Serra dos Baianos, no local chamado Ladeira de Pedra, trijunção dos limites entre os atuais municípios de Belém, Pirpirituba e Bananeiras, e antiga trilha indígena “por onde os tapuias entravam, ludibriando a vigilância das tropas do capitão-mor Luiz Soares, quando iam em socorro dos seus irmãos cariris do Piancó” (COSTA, 1990, p. 76), no século 16.
Neste local, geograficamente privilegiado, com um vale úmido
e fértil, foi erguido um engenho de cana-de-açúcar no começo do século passado:
o Engenho Ladeira de Pedra. Este engenho se juntava a outros dois próximos,
Baiano e Mufumbo, na produção dos derivados da cana-de-açúcar. (Sobre o Engenho Baiano, clique aqui)
Apesar de não ter sido um engenho colonial com a estrutura
completa de edificações, no Engenho Ladeira de Pedra existia a Casa-sede,
preservada, em parte, nos dias atuais; uma Capela, dedicada a São Sebastião, onde eram realizadas
celebrações religiosas católicas, como missas e casamentos; além de outras edificações
ligadas aos trabalhos no engenho.
“Aos cinco dias do mês de fevereiro do anno de mil novecentos e vinte e sete, nesta povoação de Belém, único Districto de Paz do termo de Caiçara, Comarca de Guarabira, Estado da Parahyba do Norte, em meu cartório, compareceu João Paulino da Silva, e perante as testemunhas adiante nomeados e declarados, digo, e assignados, declarou: que as vintes horas do dia quinze de Agosto do anno de mil novecentos e dezenove, em seu próprio domicílio, nesta povoação, nasceu uma criança do sexo feminino que recebeu o nome de Eulina Paulino da Silva, filha illegítima dele declarante e de sua esposa Zulina Oliveira da Costa, casados eclesiasticamente na Capella de “Ladeira de Pedras”, deste termo, naturaes deste estado, residentes nesta povoação, ele almocreve, e ella de serviços domésticos, já falecida [...]”
Nessa mesma época, exatamente no ano de 1920, a área do Engenho
Ladeira de Pedra foi incluída no Recenseamento Geral do Brasil, o primeiro
recenseamento da agricultura e das indústrias brasileiras. No referido levantamento,
consta como proprietário rural da área do engenho o sr. Francisco D. Cantalice.
Ainda de acordo com o cadastro, o engenho tinha como proprietário o sr. Joaquim Cândido Rocha, com a propriedade atuando nas duas referidas atividades econômicas, nas quais eram empregados, oficialmente, até 15 funcionários, com faturamento anual de até NCr$ 5 mil (Cruzeiros Novos).
A considerável importância local do Engenho Ladeira de Pedra
pode ser verificada bem antes dos levantamentos oficiais governamentais. É o
que demonstra um artigo do jornal paraibano O Norte, na edição 1.732, de 30 de
maio de 1914, quando cita a existência de uma feira na localidade.
A citação se dá no contexto de uma possível mudança do dia da
feira na povoação de Pirpirituba, distante aproximadamente 5 quilômetros do Engenho
Ladeira de Pedra:
“A nossa feira não pode absolutamente ser mudada do domingo
para outro qualquer dia porque já temos diversas circunvizinhas muito perto e
que nos faz competência.
Entre ellas temos: <<Belém>> a duas léguas de nós
que é um povoado mais ou menos prospero, com feira regular na segunda-feira já
diminuindo um dia de trabalho na agricultura, ponto principal do commercio;
<<Sertãosinho>>, a uma e meia legua , de bocca aberta esperando que
a nossa seja mudada para os habitantes de lá renovarem sua feirinha que já fora
bem soffrivel; Guarabira, a duas leguas com feira regular na quarta-feira
subtraindo também por sua vez outro excellente dia de trabalho; Ladeira de Pedras,
a uma legua de nós, onde já existe uma capella e onde há tempos houve uma feira,
esperando a mesma aventura que Sertãozinho; Bôa-Vista, a duas leguas também
com feira e já fazendo bastante competência, a espera que a nossa seja mudada
para ella tomar maior incremento, e como querem esses meus senhores que têm raciocínio,
mudar a nossa feira vendo diante de si tantas consequencias más? Devido a essas
causas já ella está quase arrasada. [...]
Pirpirituba, Junho de 914.”
Por fim, ao longo do século 20, o Engenho Ladeira de Pedra foi se transformando em espaço de encontro entre os moradores do entorno, com a construção de uma escola rural na década de 1960-1970 (data exata não confirmada), novas residências, bodega/bar entre outros atrativos para a numerosa população das comunidades rurais da época, que encontrava no engenho elementos aglutinadores, como a religião (Capela), o comércio (feira, produtos do engenho), a educação (escola), o lazer (bar/forró), os quais, na atualidade, só restam ruínas, com suas taperas ou fachadas, ou nem mesmo os resquícios, como é o caso da capela.








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