De engenhos de cachaça a moinho de arroz: as atividades econômicas do município de Belém (PB) no Cadastro Industrial de 1965

Resquícios (armazém e chaminé) do Engenho Jenipapo, fundado no ano de 1882. Foto: Instagram Destino Belém (@destinobelempb).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou, em 1965, o Cadastro Industrial dos estabelecimentos da indústria de transformação nos municípios brasileiros, com informações detalhadas, como endereço, nome do proprietário, características da produção, quantidade de trabalhadores etc.

O município de Belém, inserido na então chamada microrregião do Piemonte da Borborema, atual Região Geográfica Imediata de Guarabira, possuía 26 estabelecimentos da indústria de transformação, ou seja, que transforma matéria-prima em produtos diversos.

Dentre os estabelecimentos da indústria de transformação figuravam o gênero têxtil, com a fabricação da fibra do agave e outras; o gênero de produtos alimentares, com o beneficiamento de arroz, farinha de mandioca, farinha de milho e fabricação de pães; o gênero de bebidas, com a produção de cachaça; e o vestuário, com a fabricação de calçados.

Sr. Manoel Paulino, "Manoel Sapateiro", antigo fabricante de calçados de Belém/PB. Foto: Arquivo da família, data não identificada.

No Cadastro Industrial de 1965 são listados alguns nomes conhecidos da política belenense, mostrando a ligação entre poder econômico e político, no caso específico, proprietários de terras como João Gomes de Lima e Rodolfo Gomes Pedrosa, ex-prefeitos de Belém, os quais possuíam empreendimentos no setor de beneficiamento de fibras de agave, por exemplo.

Neste segmento têxtil, com o beneficiamento de linho, agave, juta, caroa e outras fibras, o Cadastro Industrial listou os seguintes nomes e seus respectivos endereços:

  • Gilberto Cunha Coelho – Fazenda Angelim;
  • João Gomes Lima – Sítio Gameleira;
  • Joaquim Cândido Rocha – Sítio Ladeira de Pedra;
  • José Rodrigues – Sítio Gameleira;
  • Marculino Flor – Sítio Arroz (local não identificado. Seria na “curva do arroz”, próximo a Gameleira?);
  • Odilon Amâncio Ramalho – Fazenda Gambá;
  • Paulo Soares Carvalho – Fazenda Jenipapo;
  • Pedro Emiliano – Sítio Gameleira;
  • Pedro Luiz – Sítio Gambá;
  • Rodolfo Gomes Pedrosa – Sítio Gambá
  • Viúva de Cláudio Cantalice Viana – Fazenda Gameleira (Distrito de Rua Nova).

Chama à atenção, na lista acima, a omissão do nome de Alice de Melo Viana, esposa de Cláudio Cantalice Viana, referenciada apenas como “viúva de Cláudio Cantalice Viana”. Ela ficou viúva no mesmo ano da realização do Cadastro Industrial, em 1965. A ausência da citação teria sido, talvez, pelo desconhecimento do nome, devido à atualização de última hora no cadastro, ou pela omissão proposital de uma sociedade marcadamente patriarcal?

Sra. Alice de Melo Viana. Foto: Family Search.

No segmento “vestuário” constava apenas o nome do sapateiro Manoel Miguel, com o estabelecimento “Calçados N.E.”, localizado na Rua do Comércio s/n, em Belém. A Rua do Comércio é a atual Rua Flávio Ribeiro, onde está localizada a sede da Prefeitura Municipal. Foi nessa rua que surgiu o então povoado de Gengibre que, posteriormente, tornou-se a cidade de Belém. Vale destacar, ainda, que neste estabelecimento trabalhavam outros sapateiros históricos de Belém, como Seu Manoel Paulino (Manoel Sapateiro, foto acima) e Seu Buli.


Casa de Farinha localizada no sítio Camucá, município de Belém/PB. Foto: Instagram Destino Belém (@destinobelempb).

Já o gênero de “produtos alimentares” era composto por estabelecimentos para produção de arroz, fuba, farinha de milho e mandioca, pães e derivados. Na lista do Cadastro Industrial de 1965 constavam os nomes dos seguintes proprietários:

  • Eustáquio Gomes Pedrosa – Beneficiamento de arroz (Distrito de Rua Nova);
  • Manoel Mandú – Fuba  e Farinha de milho (Rua da Central, atual Rua Feliciano Pedrosa);
  • Amélio Carneiro – Pão e produtos semelhantes. Padaria. (Rua do Comércio, s/n, atual Rua Flávio Ribeiro);
  • Moacir Augusto de Sales – Pão e produtos semelhantes. Padaria.  (Rua Flávio Ribeiro nº 41. Provavelmente o antigo  nome da atual Rua Brasiliano da Costa, pois Brasiliano da Costa ainda estava vivo nesse ano, e a rua é onde se encontra a Padaria 3 de Maio desde a criação).
  • Ana Gomes (Sítio Gambá), Benedito Santos (Sítio Gameleira), José Teixeira (Sítio Gambá) e Manoel Rodrigues (Sítio Gameleira) – Farinha de Mandioca (Casas de farinha).

Atual Rua Brasiliano da Costa sendo pavimentada com paralelepípedos na década 1960/70. À direita, na esquina, o armazém de Manoel Mandú, citado anteriormente. Foto: Facebook Belém das Antigas.

Neste segmento, destaco o “Moinho de Arroz” de Eustáquio Gomes Pedrosa, dos mais importantes comerciantes de Belém no século passado. Pertencente ao clã Gomes Pedrosa, o Moinho de Arroz, localizado no distrito de Rua Nova, ainda resiste ao tempo, apesar de bastante deteriorado. Local que poderia se tornar o “Museu do Arroz”, preservando a história socioeconômica do município de Belém.

Ruínas do Moinho de Arroz da família Gomes Pedrosa, no distrito de Rua Nova, município de Belém/PB. Imagem: Google Earth.

O último gênero das atividades econômicas de Belém, listado no Cadastro Industrial, é o de “bebidas”, especificamente de “aguardentes por processamento da cana-de-açúcar”, ou seja, produção de cachaça. São listados os seguintes nomes e seus respectivos locais:

  • Joaquim Candido Da Rocha (Sítio Ladeira de Pedra);
  • Leopoldo Batista Viana (Fazenda Angelim);
  • Odilon Amâncio Ramalho (Fazenda Gambá);
  • Paulo Soares de Carvalho (Fazenda Jenipapo);
  • Viúva de Claudio Cantalice Viana (Alice de Melo Viana), Fazenda Gameleira, próxima ao distrito de Rua Nova;
  • Waldemar Londres (Engenho Boa Vista).

Engenho Gameleira (dos Viana) em funcionamento na década de 1960, no distrito de Rua Nova, município de Belém/PB. Foto: Arquivo da família Viana.

Ainda existem ruínas ou resquícios de alguns desses engenhos que estavam em atividade, em 1965 (ano do Cadastro Industrial), no município de Belém, como os engenhos de Ladeira de Pedra (casa-sede), Jenipapo (chaminé e base da casa-grande) e Gameleira dos Viana (estrutura e casa-grande). Não tenho a informação se há ruínas dos outros engenhos citados no cadastro ou se mudaram de nome, como por exemplo, o Engenho Perriquim, que fica próximo ao Sítio Angelim, onde tem ruínas da casa-sede desse referido engenho.

Ruínas da Casa-Sede do Engenho Perriquim, próximo ao sítio Angelim, município de Belém/PB. Foto: Instagram Destino Belém (@destinobelempb).

Base e escadaria da Casa Grande do Engenho Jenipapo, no município de Belém/PB. Foto: Instagram Destino Belém (@destinobelempb).

Abaixo, recortes das páginas originais do Cadastro Industrial de 1965, realizado pelo IBGE, sobre o município Belém. Em seguida, as siglas, os códigos e os valores de rendimentos relacionados às atividades econômicas, constantes no texto original.


Informações adicionais sobre o número de trabalhadores em cada atividade citada acima:

Grupos de Pessoal Ocupado (GPO) – número de trabalhadores

  • Grupo 0 - (0 pessoa)
  • Grupo 1 - (1 a 4 pessoas)
  • Grupo 2 – (5 a 9 pessoas)
  • Grupo 3 – (10 a 19 pessoas)

Grupos de Valor de Vendas (GVV) – rendimento anual em Cruzeiros Novos (NCr$)

  • Grupo 0 – (menos de 5 mil Cruzeiros Novos)
  • Grupo 1 – (5 a menos de 7 mil Cruzeiros Novos)
  • Grupo 2 – (7 a menos de 10 mil Cruzeiros Novos)
  • Grupo 3 – (10 a menos de 25 mil Cruzeiros Novos)

Comentários

Júnior Miranda disse…
COMENTÁRIO RECUPERADO DO BLOG ANTIGO:

Anônimo 18 dezembro, 2022 14:27
Fico feliz por ver a história da minha querida Belém, qd adolescente tive várias botas feita p S.Manoel P. e Buli 🙌👏👏👏

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