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Mostrando postagens de maio, 2024

Da Gameleira aos Pagãos: as primeiras ruas de Belém e os significados históricos e sociais

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Rua Joaquim Rodrigues, antiga Rua da Gameleira. Foto da década de 1970. Autor não identificado.   No início da década de 1920, os primeiros sinais de expansão urbana do povoado de Belém, na região do Agreste/Brejo paraibano, se tornaram visíveis com a formação das primeiras ruas, em sua maioria composta por casebres de taipa (pau a pique) cobertos com palhas, nas imediações da nova capela em construção, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, como é possível deduzir pelo relato da Sra. Maria Flor de Jesus (in memoriam), “Maria de Tinô”, natural do município de Santana do Mato, no estado do Rio Grande do Norte, que veio residir em Belém a partir do ano de 1921: "Belém era uma coisinha assim, só tinha mato, só tinha a Rua da Igreja até chegar em Paulo Guedes; e a Rua da Empresa, que tinha um motor de algodão. Aquela Rua da Empresa tinha umas quatro casas. Tinha também a Rua do Sossego. A Rua onde tem a Assembleia [de Deus] era a Rua do Sossego; tinha a capelinha de Santo Antônio,...

Há 130 anos eram instalados os primeiros lampiões a gás nas ruas de Belém/PB

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Imagem ilustrativa. Os primeiros lampiões a gás (querosene) começaram a ser instalados em Belém no final do século 19, quando ainda era um povoado com poucas ruas, todas no entorno da antiga capelinha de taipa sob o orago de Nossa Senhora da Conceição, que ficava ao lado direito da atual “Igreja da Conceição”, no marco zero da cidade. De acordo com o Relatório do Presidente do Estado da Parahyba - os governadores da época eram denominados de presidentes dos estados -, Venâncio Neiva, apresentado ao Congresso Constituinte da Parahyba em 25 de junho de 1891, dois anos após a Proclamação da República, foram fornecidos lampiões a vários povoados que pertenciam ao município de Guarabira, dentre os quais, a povoação de Belém. Acendedor de lampiões, por Debret. O relatório do presidente Venâncio Neiva, com as ações realizadas pelo seu governo (1889-1891) que chegava ao fim, destaca que, para o município de Guarabira, “foram também fornecidos lampeões ás povoações de Caiçara, Belém, Cuit...

Construção do Açude Tribofe e da Lavanderia Pública de Belém/PB

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O Açude Tribofe foi construído no ano de 1953, durante o governo de José Américo de Almeida, então governador da Paraíba, com capacidade inicial de 197.000 m³, represando o Riacho do Grotão, com suas nascentes no sítio Angelim, região serrana do município de Belém, no Agreste/Brejo paraibano. Açude Tribofe. Foto: Júnior Miranda. Construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), através das frentes de trabalho ou emergência, criadas pelo Governo Federal, a obra teve como objetivo amenizar os efeitos da seca que atingia o município e grande parte da Região Nordeste do Brasil. O início da construção do Açude Tribofe chegou a ser destaque no jornal paraibano O Norte, na edição do dia 13 de março de 1953, com relatos de uma verdadeira hecatombe social exposta nos telegramas enviados ao governador José Américo de Almeida: “O governador José Américo recebeu, de vários pontos do Estado, os telegramas seguintes: BELÉM, 11 - Chegamos em Belém ás 14 horas, encontrand...

Criação oficial do distrito de Rua Nova, no município de Belém/PB

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Vista aérea do distrito de Rua Nova (2017). Foto: DR Filmes. O distrito de Rua Nova, no município de Belém, está localizado ao sul da sede municipal, distante cerca de dois quilômetros, e inserido no trevo rodoviário entre as rodovias PB-073 e PB-105. Foi criado através da Lei nº 2.647, de 20 de novembro de 1961, sancionada pelo então governador da Paraíba, Pedro Gondim. Na referida lei, foram definidos os limites oficiais do distrito de Rua Nova, além da determinação para a criação do “Cartório Civil de Pessoas Naturais” e do “Sub-Comissariado de Polícia”, ainda hoje instalados no distrito, mas designados, respectivamente, de Cartório de Ofício de Registro Civil e Posto Rodoviário Estadual. O Artigo 1º da Lei 2.647/61, que instituiu o novo distrito, reza: “Fica criado no município de Belém, o Distrito de Rua Nova, com sede no povoado de igual nome, que fica elevado a vila com os limites do atual districto policial”, delimitando a área territorial do novo distrito nos seguintes ponto...

O povoado de Gengibre (Belém) no mapa do Brasil do século 19

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Acima, fragmento do mapa do Brasil publicado em 1892, no início do governo republicano, com destaque para a então Província da Parahyba. No mapa, organizado em 1883, ainda durante o Império, já aparece referenciado o povoado de Gengibre (próximo ao nome de Mamanguape), que viria a se tornar o município de Belém. De acordo com a legenda do mapa (abaixo), trata-se de uma “Carta da República dos Estados Unidos do Brazil”, com designação das ferrovias, rios navegáveis, colônias, engenhos centrais, linhas de telégrafo e de navegação a vapor. Foi organizada por ordem do Ministro da Indústria, Viação e de Obras Públicas Innocencio Serzedello Corrêa. Lauriano José Martins Penha foi o chefe dos trabalhos gráficos. O exemplar original do mapa encontra-se na Biblioteca do Congresso dos EUA. Observação: apesar de a escrita dos séculos ser comumente em algarismo romano, foi adotado no texto a forma em algarismo arábico devido à diversidade do público leitor, como vem sendo utilizada pelos veícu...

Conheça os símbolos do município de Belém/PB: Hino, Brasão e Bandeira

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Instituídos através das leis municipais 138/1973 e 092/2009, os símbolos do município de Belém trazem elementos socioeconômicos e culturais que remontam ao período de sua emancipação política, no ano de 1957. BANDEIRA MUNICIPAL A Bandeira municipal, na cor alviverde (branco e verde) e com divisão diagonal, simboliza dois dos principais produtos agrícolas que movimentaram a economia local e regional no século passado, a saber, o algodão e a cana-de-açúcar. BRASÃO MUNICIPAL O Brasão municipal também apresenta o algodão e a cana-de-açúcar como elementos constitutivos, além de outros símbolos característicos do município de Belém, com a seguinte descrição heráldica presente na lei de criação: “UM ESCUDO com bordas nas cores verde, amarelo e branco, tendo no seu interior UM JUAZEIRO, na cor verde, representando a mata nativa; UM MEIO SOL AMARELO, representando o brilho deste na maior parte do ano; UM BOVINO, na cor marrom, representando a pecuária; UM HOMEM E UMA MULHER com uma enxa...

Quem mudou o nome de Gengibre para Belém nos anos de 1870? Padre Ibiapina ou Herculano?

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Painel no Santuário do Padre Ibiapina, em Solânea, representando as viagens do religioso pelo Nordeste. A atual denominação de Belém remonta aos anos de 1870, e não no início do século XX, como atestava a principal versão popular. Esse apontamento pode ser confirmado nos arquivos da Paróquia de Nosso Senhor do Bonfim, da vizinha cidade da Serra da Raiz, da qual o povoado de Belém estava sob a jurisdição dessa antiga Freguesia, nos idos de 1870. [...] A aludida descrição no livro de batismo da Paróquia da Serra da Raiz leva à conclusão de que o nome Gengibre, primitiva denominação de Belém, teria sofrido a modificação antes de 1870 ou naquele mesmo ano, e que, segundo uma versão popular, teria ocorrido por intermédio do “Frei” Herculano, “famoso pelas suas ações de fé e religiosidade, onde, nas celebrações dos atos litúrgicos, desabotoava sua batina e se autodisciplinava, com um relho chumbado na ponta, até ensanguentar-se” (SILVA, 1997, p. 41). Interessante nota histórica do Sr. Os...

Hidrografia de Belém/PB: açudes, riachos, lagoas e as bacias hidrográficas dos rios Curimataú e Mamanguape

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Rio Curimataú, no trecho entre Belém e Tacima (distrito de Cachoeirinha), com cheia registrada no ano de 2007. Foto: Júnior Miranda. O município de Belém está inserido em duas bacias hidrográficas, sendo uma de domínio federal, por ultrapassar a divisa do estado da Paraíba, e a outra de domínio estadual, devido à área estar completamente em território paraibano. De acordo com a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), parte do município de Belém (norte e oeste) pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Curimataú (médio curso), que abrange também parte do estado do Rio Grande do Norte. Os principais afluentes que desaguam no Rio Curimataú são os riachos da Picada, Grotão, Gameleira e do Meio. Cachoeira do Mufumbo, município de Belém/PB. Foto: Destino Belém PB/Vladimir Magalhães. A outra parte do município de Belém (sul e leste) está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Mamanguape, com os riachos desaguando, inicialmente, na microbacia do Rio Pirpirituba, como...

Patrimônio Cultural Imaterial de Belém/PB: Sorda de João de Deus, Procissão da Padroeira e Feira Livre

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Desde o ano de 2019, a Feira livre, a Sorda de João de Deus e a Procissão de Nossa Senhora da Conceição foram declarados “Patrimônio Cultural Imaterial de Belém”, através da Lei Municipal 475/2019. O reconhecimento da Procissão de Nossa Senhora da Conceição, da Sorda de João de Deus e da Feira livre de Belém, como Patrimônio Cultural Imaterial do município, contribui para a preservação dos saberes e das manifestações populares, fortalecendo e valorizando a cultura local. A seguir, a contextualização histórica da Procissão da Padroeira e da Feira de Belém, escrita pelo professor Júnior Miranda; e da Sorda de João de Deus, escrita por José Teixeira, Oficial de Justiça e filho de João Teixeira (in memoriam), conhecido por “João de Deus”, o qual fazia a Sorda - biscoito artesanal feito de rapadura e outros ingredientes - produzida atualmente por um dos seus aprendizes, o Bibil Sordas. Patrimônio Cultural Imaterial. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cult...

Toponímia: Belém/PB e os seis nomes recebidos até a emancipação em 1957

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Foto aérea com vista parcial da cidade de Belém no ano de 1968 (Arquivo da Câmara Municipal). Desde a sua origem, como povoado de Gengibre, Belém já mudou de nome cinco vezes. Isso mesmo. Cinco vezes! Uma das mudanças ocorreu em 1939, quando o distrito passou a se chamar de "Bom Jesus". A mudança foi destaque no jornal O Observador Econômico e Financeiro, do Rio de Janeiro, daquele ano (texto abaixo com a grafia da época), que reclamou das constantes mudanças dos nomes dos lugares, as quais dificultavam o envio das correspondências. Além de Gengibre (até 1870) e Bom Jesus (1939), o então distrito já recebeu o nome de Belém de Guarabira (1937), Curimataú (1943) e Belém de Caiçara (1949-1956), até sua emancipação em 6 de setembro de 1957, quando passou a se chamar apenas de Belém.  *** "LOGARES QUE SE MUDAM Ás difficuldades technicas e financeiras, á ausencia de capacitação organizada, reúnem-se outras difficuldades de ordem externa, que, bem examinadas, verifi...

O escravizado Guilherme e a casa incendiada em Gengibre (Belém/PB)

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Casa-sede da Fazenda Camelo em Belém, demolida no ano de 2022. Foto: Júnior Miranda. Uma das citações mais antigas sobre o povoado de Gengibre, que deu origem ao município de Belém, está descrita no jornal O Publicador, do século 19. Trata-se da notícia sobre uma casa incendiada pelo escravizado de nome Guilherme, de "propriedade" de Miguel Archanjo Guedes, residente no "lugar Gingibre", do termo da Independência, atual município de Guarabira. A imagem acima não é da casa incendiada, mas da antiga casa-sede da Fazenda Camelo, próxima ao ginásio de esportes "O Xaviezão", que pertenceu à família Guedes, a mesma do dono do escravo na nota do jornal. Essa antiga residência foi demolida recentemente.  Seguem a nota com a grafia da época e o recorte do jornal citado: *** "Repartição da policia. Dezembro 9. No dia 2 do corrente no lugar Gingibre, termo da Independencia, Guilherme, escravo de Miguel Archanjo Guedes incendiou a casa de Manoel Cesario...

A passagem do cangaceiro Lampião por Belém (Paraíba)

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Virgulino Ferreira, o "Lampião". Acervo do Museu do Ceará. "“Lampião” Luiz PINTO Eu era rapazola quando Virgulino Ferreira, o "Lampião", depois de haver atacado Pilões, na hinterlândia paraibana, emperrou um dia em Belém de Caiçara e mandou intimar o Cel. João Rodrigues de Assunção Neves, de Lagoa do Matias, a lhe mandar Cinco Contos de Réis. Meu pai, José da Silva Pinto, era uma espécie de lugar-tenente do coronel. Tido como valente e respeitado por gregos e troianos. O coronel lhe pediu: "Compadre, pelo amor de Deus, vá levar êsse dinheiro, ao capitão, lá em Belém." Meu pai foi. Os cangaceiros postos na entrada da vila queriam corrê-lo para ver se estava armado. O velho não deixou. Estabeleceu-se discussão. Corisco surge e a pé acompanha meu pai a cavalo até o lugar em que se encontrava o capitão. Papai estava armado de pistola e punhal. Lampião o recebeu e fechou a porta. Papai lhe entrega a importância. O cangaceiro o abraça, presenteia-lhe ...

Os dramáticos telegramas, as frentes de trabalho e a construção do açude Tribofe na década de 1950, em Belém/PB

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Homens caminhando para o local de mais uma frente de trabalho durante uma das secas na região Nordeste. Fonte: Iconographia. Publico importante registro histórico sobre a construção do Açude Tribofe na década de 1950, em Belém, estampado no jornal O Norte. Uma verdadeira hecatombe social, exposta nos telegramas enviados ao governador da época, José Américo de Almeida, que atingiu Belém e região devido a seca prolongada no início daquela década. Sobre o nome do açude, Tribofe significa trapaça. *** "O governador José Américo recebeu, de vários pontos do Estado, os telegramas seguintes: BELÉM, 11 - Chegamos em Belém ás 14 horas, encontrando uma aglomeração de 800 homens em situação pavorosa. Pela Comissão de Bandeirantes e Universitários. - Veloso Freire. CAIÇARA, 11 - A situação da vila de Belém é muito grave. Mil homens famintos aguardam ferramentas e verbas para o início do açude tribofe e os reparos da estrada Central. Espero providência do vosso honrado Govêrno no senti...

O trem que não chegou a Gengibre (Belém/PB)

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Trem a vapor na plataforma de João Pessoa, anos 1950. Foto: IBGE. Era o ano de 1873, ainda sob o reinado de Dom Pedro II. Exatamente no dia 6 de setembro (84 anos depois, nessa mesma data, Belém seria emancipada), o então presidente da Província da Parahyba do Norte, Francisco Teixeira de Sá, enviou um relatório à Assembleia Legislativa Provincial solicitando a aprovação de um contrato, com o comerciante pernambucano José Alves Barbosa Júnior, para a construção de uma estrada de ferro entre a povoação de Gengibre (Belém) e a capital da província (atual João Pessoa), passando pela cidade de Mamanguape. Mapa com o trajeto da ferrovia entre a cidade da Parahyba e Gengibre (Belém), publicado na Tese da Dra. Maria Simone Morais Soares, intitulada "Território e cidade nos trilhos da Estrada de Ferro Conde D’Eu - Província da Parahyba do Norte (1871-1901)", apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. O jornal A Nação, edi...