Riacho da Picada, trajeto de uma antiga trilha indígena em Belém (PB)
Conhecido por rio de Belém, o riacho da Picada é o nome oficial do curso d’água que atravessa parte do território do município de Belém, à oeste, fazendo limite com o município de Bananeiras, tendo como um dos trechos limítrofes o sítio Manipeba, na área chamada Vila Cordeiro.
O riacho da Picada tem sua nascente na região da Lagoa do Matias/Cruzeiro de Roma, no município de Bananeiras; também recebe as águas do riacho do Gambá/Gameleira dos Vianas, próximo ao distrito de Rua Nova.
À leste, o riacho da Picada também recebe as águas do riacho do Tribofe, na altura da ponte próxima à entrada do Assentamento Nossa Senhora de Fátima, seguindo até o sítio Tapera onde está a sua foz, ainda no município de Belém, desaguando no rio Curimataú.
Além dessas características hidrográficas, o riacho da Picada é uma das referências geohistóricas para a localização e concessão de antigas sesmarias na região da Serra da Copaoba, no século 18. As sesmarias eram grandes lotes de terras distribuídos pela Coroa Portuguesa à elite colonial (famílias ricas) para ocupar e produzir nas terras indígenas invadidas.
É na sesmaria sob o registro de número 830, datada de 26 de julho de 1785, concedida ao capitão Manoel Ribeiro de Lacerda e a Luiz Soares da Silveira, que a “Picada” foi nominalmente citada, como consta na obra Apontamentos para a história territorial da Parahyba (1909), de João de Lyra Tavares:
N° 830 em 26 de julho de 1785
Capitão Manoel Ribeiro de Lacerda e Luiz Soares da Silveira, dizem que descobriram terras devolutas no logar Pirpirituba, Curimataú, Picada, sertão de Manoel Jorge, Alagoa Nova providos das Bananeiras [...] (TAVAVES, 1909, p. 408).
O lugar “Picada” compreende, na atualidade, parte do perímetro urbano de Belém, e leva essa nomenclatura por ter sido a área de uma antiga trilha dos índios tapuias, habitantes à margem esquerda do Rio Curimataú, o qual tem como um dos afluentes, pela margem direita, o riacho da Picada, que significa caminho estreito ou trilha. Esta primitiva picada dos nativos, que ficava às margens do riacho, foi utilizada como estrada de ligação entre Belém e Bananeiras até o início do século 20.
O escritor caiçarense Severino Ismael da Costa, em sua obra Caiçara: caminhos de almocreves (1990), ao analisar o território de outra Sesmaria mais antiga, de número 160, datada de 21 de março de 1719, concedida ao capitão Francisco Affonso da Silva, ao sargento-mor Antônio Ferreira de Mendonça e ao tenente Manoel Pimenta Galheiros, afirma que:
Isto leva à conclusão de que a passagem para as terras dessa sesmaria subia dos sertões de Manoel Jorge pela Ladeira de Pedra [município de Belém], corredor dos tapuias. Daí passando pela atual cidade de Belém a encontrar logo o rio Curimataú, ultrapassando o qual chegar-se-ia afinal aos providos de Thomé Pereira (COSTA, 1990, p. 92).
O riacho da Picada é ainda referenciado na escritura de doação de uma parte de terras do padre José Tavares Bezerra para a Capela Nossa Senhora da Conceição, da povoação de Belém, em 06 de fevereiro de 1871, sendo um os limites das terras doadas:
[...] principiando da barra dois riachos que vem do sitio do Tenente Luiz Francelino, e outro que vem do Olho dagua de Pedro Ferreira em linha recta para o poente, até a baixinha da estrada entre a casa de Candido Baraxo e a casa que foi do Alferes Francisco Camillo: e dahi em linha recta até o riacho Picada, e descendo por este até a casa de Gervasio de tal, e dahi em linha recta para o nascente a passar na Alagoinha do Lagedo grande até o riacho que vem do sitio do mesmo Tenente Luiz Francelino [...] (Saiba mais: Padre JoséTavares e a doação das terras onde foi construída a cidade de Belém/PB).
Portanto, o riacho da Picada tem esse nome devido a uma antiga trilha, ou seja, picada, aberta pelos indígenas às margens do dito riacho, servindo de passagem para os nativos e, posteriormente, para os tropeiros com suas mulas, até a construção de uma nova estrada de ligação entre Belém e a região do Brejo paraibano, na década de 1940.
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