Hino da Padroeira de Belém (PB): uma história de fé, devoção e justiça social
Cantada há mais de meio século pelos católicos de Belém, no Agreste/Brejo paraibano, o hino à Padroeira Nossa Senhora da Conceição foi composto pelo monge João Batista e duas freiras, irmã Socorro e irmã Zarita, quando o município de Belém ainda estava sob a jurisdição eclesiástica da Arquidiocese da Paraíba, dirigida pelo saudoso bispo Dom José Maria Pires, o Dom Zumbi.
Apesar da devoção à Nossa Senhora da Conceição remontar ao século XIX (19), com a existência de uma pequena capela nos idos de 1860 no então povoado de Gengibre, atual cidade de Belém, o hino oficial dedicado à padroeira foi composto por volta do ano de 1970, também com a participação efetiva da comunidade católica, como relata a senhora Francisca Xavier dos Santos, Dona Francisquinha, uma das mulheres atuantes da comunidade:
“João Batista [monge] pediu estrofes, pediu ao povo: - Vocês
criem pra gente formar o Hino da Padroeira. Ele dizia assim: - Vamos falar da
história de Belém. Aí o povo mandava. Justamente da terra. Maria Antônia [leiga
da comunidade] mandou falar sobre a terra de Nossa Senhora, que aqui o povo não
tinha onde morar, e a terra era dela. Cada qual da gente mandou um versinho. Aí
ele juntou tudo e formou o Hino.”
A primeira estrofe do hino evidencia o caráter devocional,
quando saúda Maria e Jesus, e já introduz, indiretamente, a problemática da
moradia, ao pedir socorro ao “povo de irmãos”, com outro “salve”, não no
sentido de saudação, mas de ajuda, pois a “terra vossa é”, em referência a uma extensa parte de terra doada por um antigo morador, no final do século 19, à Santa, ou
seja, à Igreja Católica, e onde está situado quase todo o perímetro urbano da cidade de Belém
(Saiba mais: Padre José Tavares e a doação das terras onde foi construída a cidade de Belém).
Na estrofe seguinte, o hino da padroeira dá ênfase à ligação bíblico-teológica entre Maria e Jesus, com versos simples e de fácil entendimento para o povo:
És o Caminho da fé,
Porque trouxeste a Belém
O Jesus de Nazaré.”
A terceira estrofe é mais direta em relação ao sofrimento de muitas famílias belenenses, devido à precariedade ou da falta de moradia, tornando-se uma prece, uma súplica à padroeira, ligando fé e vida de um povo sofredor e religioso:
Padroeira de Belém.
Rogai por nós pecadores,
Que onde morar não tem.”
Na quarta estrofe do hino a prece é intensificada com o teor profético de denúncia sobre a situação precária vivenciada pelos pobres de Belém, que “são moradores também” e vivem em “poços d’água”, ou seja, em casebres improvisados, alagadiços e insalubres. E conclui, novamente, com a referência às “terras da Santa”, as quais, ao longo do século 20, foram adquiridas ou apossadas pelas elites políticas e econômicas locais.
“Os pequenos desvalidos
São moradores também.
Vivem aqui em poços d’água,
Tanta terra que vós tem.”
A quinta estrofe retorna ao aspecto catequético indissociável entre as figuras da mãe e do filho, “guia de todos os povos”, ligando a primeira e segunda estrofes através da “estrela de Nazaré”, “caminho da fé”, que indica para “Jesus, filho da Conceição”.
“Ó Santa Mãe querida
Padroeira de Belém
Guia de todos os povos
Quem crer em Jesus também.”
O hino da Padroeira de Belém, Nossa Senhora da Conceição, termina com uma prece libertadora, unindo fé e realidade social do povo belenense, marcada por acentuada exclusão social, desemprego, falta de moradia e concentração fundiária (terras).
Portanto, com essas seis estrofes cantadas ao longo de décadas, os católicos belenenses perpetuam sua história de fé, devoção e luta por justiça social; um hino que, além do aspecto religioso, se transformou em verdadeiro patrimônio cultural imaterial de Belém.
Comentários